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O pequeno Hans

Por: Ana Carlênia Oliveira Bastos

Freud incentivava amigos e alunos a observar a vida sexual das crianças, tendo em conta que são, pela maioria dos adultos, totalmente desprezadas ou julgadas, inexistente.

Entre os adeptos de Freud, encontrava-se Max Graf, que acreditando no inconsciente ensinado por ele, resolveu pedir sua ajuda na elucidação de uma fobia que acometia seu filho.

Esse caso não foi tratado diretamente por Freud, o mesmo, viu o menino apenas uma vez, porém acompanhou a trajetória sintomática de Hans, através de depoimentos escritos em detalhes por Max.

Os primeiros relatos a respeito de Hans (como Freud resolveu chamar o menino) datam de um período próximo aos três anos de idade. Nesse período, Hans fazia inúmeras observações sobre seu órgão sexual, fonte de investigação e perguntas frequentes, era por ele denominado de “pipi”, o menino relacionava tudo à sua volta com “pipi.” (sexualidade infantil).

Certa vez ao manipular seu “pipi” foi ameaçado pela mãe de chamar o médico para cortar-lhe o pinto. (início do complexo de castração intensificado pelas palavras da mãe). O interesse pelo “pipi” suscitou várias perguntas e levantou várias hipóteses tais como: “o pai tem pipi?”, “o pipi da mãe era grande como o do cavalo?”, “o trem faz pipi?” Identificando dessa forma os objetos animados e inanimados, como sendo ou não possuidores de pipi.

O nascimento de Hanna, irmãzinha de Hans, trouxe outros questionamentos sobre o nascimento dos bebês, seguido também pelo sentimento de ciúmes. O pai relata que quando a irmã era elogiada, o menino dizia com desprezo: “mas ela ainda não tem dentes”, relacionando o fato do bebê não falar, com a falta de dentes.

Quando Hans tinha quatro anos, a família mudou-se para um apartamento onde o garoto se apaixonou por uma menina de quatro anos (seu interesse não era apenas auto-erótico já escolhia outros objetos para investir sua libido).

Alguns sonhos também foram relatados a Freud em um desses, Hans brincava com seus amigos e uma delas o obrigava a fazer “pipi”. No sonho esse era um dos pedidos de uma brincadeira que costumava frequentemente brincar. No sonho, ele tinha desejo de ser visto, porém, quando o pai o ajudava a fazer pipi, ele pedia para se esconderem pois não gostaria de ser visto por outras pessoas. Seu desejo sofreu repressão (Id: exibicionismo e Supereu: repressão).

Aos quatro anos e nove meses teve um sonho de ansiedade onde sua mãe o havia deixado e ele não poderia mais “mimar” (fazer carinho) com sua mamãe, alguns dias depois sua fobia se instala.

Hans não queria sair de casa, estava com medo de cavalos, principalmente os grandes, achava que seria mordido por eles (a afeição pela mãe, o desejo de livrar-se do pai, os questionamentos não elucidados, tornou-se insustentável para o menino que encontrou como saída a fobia).

O menino se encontrava cada vez mais comprometido com sua fobia, além das dificuldades em sair de casa, tinha medo das carruagens grandes, acreditava que os cavalos poderiam cair.

Freud, juntamente com o pai de Hans explicaram ao menino que essa fobia tinha origem no seu desejo de ir para a cama com sua mãe, estar sozinho com ela  (Complexo de Édipo), o medo que o cavalo o mordesse, poderia estar relacionado com o seu interesse por “pipis”, assim como o medo de determinados acessórios usados pelos cavalos lembraria o bigode de seu pai, foi sugerido que o menino parasse de tocar no seu “pipi”.

O tratamento continuou com Hans relatando pensamentos, sonhos e desejos manifestados através de fantasias, brincadeiras e conversas com o pai (transferência). Nessas brincadeiras ele resolvia seus medos e encontrava saídas para suas questões ainda não resolvidas, conseguiu na medida do possível, trazer luz as questões que tanto o angustiavam, tornando-se cada vez mais curioso e questionador, levando os porquês na ponta da língua, passando pelo complexo de Édipo, tornando-se um famoso diretor de teatro, um homem de bem.

O caso do pequeno Hans foi o pioneiro na análise com crianças, reconhecendo a infância como época estruturante para o sujeito.

Bibliografia: 

-Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud.

Volume X

– Do Pequeno Hans a Herbert Graf. Juan Carlos Cosentino.

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